O hábito de estalar os dedos se tornou um fenômeno digital e objeto de discussões médicas. Opinião dos especialistas. Esse “estalo” que alguns adoram e outros detestam. Um gesto simples, repetido a qualquer hora e independentemente do contexto, há muito se tornou um hábito. É prejudicial estalar os dedos? Os ossos se quebram? A ciência dá uma resposta definitiva.
Bater os dedos e outras articulações deixou de ser um simples gesto cotidiano e se tornou um fenômeno viral, reforçado por milhões de visualizações nas redes sociais e uma longa tradição de mitos sobre sua suposta periculosidade. No entanto, a ciência provou que esse hábito, longe de ser prejudicial, é o resultado de um processo físico inofensivo. Tanto a The Conversation quanto a National Geographic desmascararam mitos populares e explicaram a verdadeira origem do característico “estalo”.
Um interesse que atravessa séculos e plataformas digitais
O estalo das articulações, tecnicamente conhecido como cavitação articular, fascina médicos e o público em geral desde o século XIX. Naquela época, médicos britânicos já documentavam “ruídos espontâneos”, mas foi com o surgimento da quiroprática que esse som passou a ser associado à suposta restauração do
equilíbrio corporal.
Explicação científica para a origem do som articular
A explicação científica é clara: o estalo não vem dos ossos, mas das articulações sinoviais, que são cobertas por uma cápsula de líquido sinovial. Quando a articulação se move rapidamente ou com esforço, a pressão interna cai drasticamente, causando a formação de bolhas de gás. Esse fenômeno, chamado cavitação, cria o característico “estalo”.
Estudos de ressonância magnética mostraram que o som ocorre durante a formação da bolha, e não quando ela se rompe, como se pensava anteriormente, conforme descrito em detalhes em The Conversation.
Do ponto de vista médico, estalar os dedos não traz nenhum dano ou benefício, se for feito de vez em quando, sem dor e sem compulsão. Não há benefícios terapêuticos comprovados, mas também não causa danos estruturais às articulações.
Em casos isolados, observou-se que isso pode aumentar ligeiramente a amplitude dos movimentos, embora esse efeito seja temporário. Não há evidências científicas de que esse hábito fortaleça, danifique ou altere as articulações a longo prazo.
Portanto, não é um hábito que traz benefícios para a saúde das articulações, mas também não é prejudicial para pessoas saudáveis. Como qualquer movimento do corpo, deve ser feito de forma consciente e sem exageros.
Segurança do hábito: mito contra evidências médicas
Renata Gregório Paulos, médica traumatologista do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, explica na revista National Geographic que estalar os dedos é uma reação normal do corpo. “Atualmente, não há evidências científicas de que esse hábito possa prejudicar a saúde das mãos ou engrossar as articulações”, afirma o especialista.
A explosão de bolhas de ar na sinovial, causada pela mudança de pressão, é a única causa do som e não causa nenhum dano estrutural.
Osteoartrite, um dos mitos mais comuns
Durante décadas, a crença de que estalar os dedos causa osteoartrite ou artrite foi repetida em consultas médicas, na mídia e em conversas familiares. No entanto, dados científicos refutam isso.
Um estudo publicado no The Journal of the American Board of Family Medicine, que analisou mais de 200 idosos, não encontrou nenhuma relação entre esse hábito e a presença de osteoartrite nas mãos, de acordo com a mídia.
O caso mais conhecido é o do médico americano Donald Unger, que durante 50 anos estalava apenas os dedos da mão esquerda duas vezes por dia, deixando a mão direita intacta como controle. Após mais de 36.000 estalos, nenhuma das mãos apresentou sinais de artrite ou diferenças nas articulações, segundo a National Geographic.
Precauções e prevenção: quando procurar um especialista
Embora esse hábito não cause danos estruturais nem leve à osteoartrite, sua prática compulsiva ou violenta pode irritar os tecidos moles que envolvem a articulação, como ligamentos ou tendões.
Além disso, se o estalo for acompanhado de dor, bloqueio da articulação, fraqueza ou instabilidade, pode ser um sinal de uma condição patológica que requer exame médico, alerta The Conversation. Nesses casos, é recomendável consultar um especialista.
Também é importante levar em consideração o ambiente: o estalo repetitivo pode incomodar outras pessoas e causar desconforto social.
Estalos em técnicas manuais: sucesso ou ilusão terapêutica?
Na fisioterapia, osteopatia e quiropraxia, certas manipulações manuais são frequentemente acompanhadas por sons articulares. No entanto, os dados indicam que o som não garante a eficácia terapêutica e não significa correção biomecânica.
As manipulações podem ser úteis mesmo na ausência de som e vice-versa. De acordo com The Conversation, os benefícios parecem depender mais de mecanismos neurofisiológicos, como o relaxamento muscular, do que do “estalo” audível.
A popularidade dos vídeos com estalos nas articulações nas redes sociais popularizou a ideia de que o som é sinônimo de sucesso terapêutico ou “correção instantânea”. Mas o consumo desse tipo de conteúdo sem apoio profissional pode criar expectativas irrealistas e contribuir para uma abordagem simplista de problemas complexos do aparelho locomotor.
Além disso, os especialistas alertam que isso pode levar à dependência de técnicas passivas, diminuindo o valor da educação, do movimento ativo e dos cuidados pessoais.
Os especialistas recomendam evitar esse hábito em caso de dor ou desconforto.
Benefícios temporários e principais recomendações
De acordo com a National Geographic, observou-se que a amplitude de movimento das articulações pode aumentar ligeiramente após estalar os dedos, mas esse efeito é temporário. A articulação retorna rapidamente ao seu estado original e não há efeitos positivos cumulativos.
Portanto, esse hábito não melhora nem piora a saúde das articulações, se praticado com moderação e sem dor.
A saúde das articulações não depende de sons, mitos ou tendências virais. Ela é fortalecida por meio de movimentos ativos, exercícios de força adequados, postura consciente e conhecimento do próprio corpo.
A busca pelo bem-estar do sistema musculoesquelético requer informação, prevenção e autonomia, e não apenas estímulos sonoros ou manipulações externas. Como lembra The Conversation, o som não é sinônimo de saúde. A verdadeira chave para a saúde está no equilíbrio funcional e no movimento direcionado.