Pesquisadores confirmam que o núcleo da Terra filtra ouro e metais preciosos para a superfície. Esta descoberta é fundamental para compreender sua origem, gestão sustentável e papel na transição energética.
Ouro e metais preciosos no núcleo da Terra. Vazamento para o manto e para a superfície. Evidências nas lavas havaianas. Consequências para a indústria de mineração e tecnologia. A chave para fontes renováveis de energia.
Núcleo da Terra: um reservatório inacessível, mas ativo
Longe de estar completamente isolado, o núcleo metálico da Terra parece ter uma conexão mais dinâmica com o manto do que se pensava anteriormente. Pesquisadores da Universidade de Göttingen descobriram na lava havaiana traços do isótopo 100Ru, característico de materiais provenientes do núcleo. Essa descoberta indica que parte dos metais preciosos, incluindo o ouro, migra lentamente das profundezas extremas para a superfície.
A descoberta foi possível graças a novos métodos analíticos de ultraprecisão, capazes de distinguir diferenças mínimas na composição isotópica. Até agora, esse sinal permanecia oculto entre o ruído das medições.
Um fluxo subterrâneo com consequências globais
Esta descoberta não significa que, num futuro próximo, será possível extrair ouro diretamente do núcleo — uma profundidade superior a 3000 km torna isso impossível —, mas dá pistas sobre como alguns depósitos superficiais se formaram ao longo de milhões de anos. Parte do ouro que hoje sustenta indústrias essenciais, desde a eletrônica de ponta até as tecnologias de energia renovável, pode ter origem nesse fluxo profundo de materiais.
Pesquisas confirmam que enormes volumes de rocha superaquecida, estimados em centenas de quadrilhões de toneladas, sobem da fronteira entre o núcleo e o manto, formando ilhas vulcânicas como o Havaí. Esses processos lentos, mas contínuos, contribuem para a renovação dos recursos minerais da crosta terrestre.
Importância para a transição energética
O ouro e outros metais preciosos não têm apenas valor econômico: eles são essenciais para a produção de componentes de painéis solares, turbinas eólicas marítimas e baterias de alto desempenho. Sua condutividade, resistência à corrosão e estabilidade química os tornam indispensáveis em muitas áreas críticas para a transição energética.
Os dados sobre 99,999% de ouro no núcleo da Terra não significam que esse ouro possa ser extraído ou esteja disponível para o mercado. Ele se encontra a mais de 3.000 km de profundidade, preso em um núcleo metálico inacessível com as tecnologias atuais. Portanto, isso não afeta o preço do ouro nem diminui seu valor. Essa descoberta se refere a traços mínimos que migraram para o manto e, em termos geológicos, atingem a superfície. Trata-se de uma pesquisa científica sobre a dinâmica interna da Terra, e não de uma previsão do mercado de ouro.
Embora a mineração profunda não seja uma opção viável, a compreensão da origem e da dinâmica desses metais pode direcionar a exploração de minerais para áreas com maior probabilidade de concentrações rentáveis, reduzindo o impacto da mineração no meio ambiente. Isso liga a geociência ao desenvolvimento sustentável, pois menor volume de extração e maior eficiência significam menor destruição dos ecossistemas.